🌎 O paralelo: Rio+20 (2012) e COP30 (2025)
Reflexão sobre a persistência dos desafios ambientais e energéticos
Introdução
Às vésperas do encerramento da COP30, que ocorre em Belém entre 10 e 21 de novembro de 2025, o engenheiro Marco Aurélio Cândia Braga revisita impressões que o acompanharam desde sua participação na Rio+20, realizada entre 20 e 22 de junho de 2012. Agora, em pleno 20 de novembro de 2025, ele observa com atenção os desdobramentos desta COP histórica e identifica paralelos marcantes entre os debates de mais de uma década atrás e os desafios atuais da transição energética, especialmente no campo do biogás e do biometano, áreas em que atua há décadas. Seu relato evidencia como avanços, lacunas e urgências permanecem entrelaçados no percurso global rumo à sustentabilidade.
Uma reflexão sobre a persistência dos desafios ambientais e energéticos
Por Marco Aurélio Cândia Braga,
É notável como temas como biogás e biometano, que apresentei na Rio+20 (2012), seguem atuais e estratégicos na COP30 (2025). Isso evidencia o ritmo lento da implementação global de políticas climáticas.
Podemos traçar um paralelo entre a Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável) e a COP30 (Conferência das Partes, em Belém do Pará), destacando lições e legados fundamentais para a agenda climática.
🌎 O Paralelo: Rio+20 (2012) e COP30 (2025)
A Rio+92 consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável. A Rio+20 buscou renovar esse compromisso, enquanto as COPs, incluindo a COP30, representam o espaço institucional para transformar essas visões em ações climáticas concretas no âmbito do Acordo de Paris.
Comparativo
- Foco principal
- Rio+20 (2012) - Economia Verde no contexto do desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza.
- COP30 (2025) - Implementação e aumento da ambição climática (NDCs), com centralidade na Amazônia e na Justiça Climática.
- Meu tema: Energia do Biogás
- Rio+20 (2012) - Biogás/biometano como promessa de energia limpa descentralizada e solução para resíduos.
- COP30 (2025) - Biogás/biometano como bioenergia comprovada, essencial para transporte, indústria e mitigação de metano (GEE potente).
- Lição central
- Rio+20 (2012) - Ausência de mecanismos vinculantes e metas ambiciosas, era uma conferência voltada ao desenvolvimento.
- COP30 (2025) - Urgência de financiamento climático e integração das metas ambientais com a economia real.
♻️ Lições e legados da Rio+20
O principal legado foi o documento "O Futuro que Queremos", que iniciou o processo que culminou nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A grande lição, porém, foi a dificuldade de transformar compromissos em resultados concretos sem incentivos econômicos e regulamentações robustas.
✔ O que já foi implementado
- Adoção dos ODS (2015): A Rio+20 desencadeou o processo para os 17 ODS, que se tornaram o marco global mais importante para orientar políticas públicas e estratégias empresariais.
- Bioeconomia e Economia Circular: O conceito de “Economia Verde” ganhou força. Temas como biogás e biometano deixaram de ser apenas promessas e passaram a integrar programas de incentivo e políticas de captura de metano, um gás de efeito estufa (GEE) 28 vezes mais potente que o CO₂.
- Maior engajamento empresarial: A Rio+20 impulsionou o protagonismo do setor privado na agenda ESG (Ambiental, Social e Governança).
🛑 O que ainda não saiu do papel: O “empurra-empurra” das decisões
A principal lacuna desde a Rio+20, e que agora volta ao centro do debate na COP30, é a falta de financiamento e escala das ações.
- Financiamento climático global
- A promessa: Mobilizar US$ 100 bilhões anuais para países em desenvolvimento.
- A realidade: Os recursos são insuficientes e irregulares.
- O impasse atual: A Justiça Climática é o ponto de maior tensão. Países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, exigem cumprimento dessas promessas para viabilizar a descarbonização.
- Subsídios aos combustíveis fósseis
- Apesar das discussões sobre transição energética, os subsídios globais aos fósseis ainda superam os investimentos em renováveis, a maior contradição entre discurso (Rio+20) e prática (COP30).
- Implementação em larga escala de projetos de biogás/biometano (meu tema): O biogás e o biometano continuam subdimensionados no Brasil e em vários países, apesar de:
- tecnologia madura;
- ampla disponibilidade de resíduos;
- potencial de substituir gás natural e diesel
Entraves: infraestrutura, custos iniciais e segurança regulatória.
A principal lição é que o "empurrar" das decisões ocorre porque o custo da inação (futuro) não é percebido como maior do que o custo da mudança (presente) por todos os atores globais, especialmente no setor financeiro e energético. A COP30 tentará, mais uma vez, encurtar essa distância entre a intenção e a ação.
Mato Grosso do Sul: Do MDL ao Carbono Neutro
O estado de Mato Grosso do Sul (MS) tornou-se referência nacional ao avançar de projetos de mitigação sob o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) para uma estratégia abrangente rumo ao Carbono Neutro 2030.
Lição do MDL (Protocolo de Kyoto)
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), operacionalizado após a Rio-92 e formalizado pelo Protocolo de Kyoto, permitia que países desenvolvidos investissem em projetos de redução de emissões em países em desenvolvimento (como o Brasil) e ganhassem créditos de carbono (CERs).
- Experiência (MDL): Projetos de Biogás e Biometano eram ideais para o MDL, pois capturavam o metano (um GEE potente) de aterros e da agropecuária, transformando-o em energia. O MDL forneceu a primeira estrutura global para monetizar a redução de carbono, ensinando a medir, verificar e reportar (MRV).
- Limitação: O MDL era focado apenas na redução de emissões de projetos específicos e se tornou obsoleto com o fim do Protocolo de Kyoto e o advento do Acordo de Paris.
Evolução para Projetos de Carbono Neutro (Net-Zero)
A agenda global passou do foco na simples redução (MDL) para a neutralidade de carbono (Net-Zero), um compromisso de equilibrar as emissões totais com as remoções de carbono.
- Estratégia do MS: Mato Grosso do Sul foi um dos pioneiros a formalizar um plano ambicioso: a meta de ser um estado Carbono Neutro até 2030.
- Foco Atual: O foco se expandiu para além da energia e dos resíduos (meu tema no Rio+20), abrangendo:
- Agricultura de Baixo Carbono: Incentivos para Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e recuperação de pastagens.
- Remoção de Carbono: Foco na restauração florestal no bioma Cerrado e Pantanal.
- Mercado Voluntário de Carbono: Criação de regulamentação estadual para atrair investimentos em projetos de sequestro e redução de forma mais ampla e escalonada do que o MDL permitia.
O progresso do Estado do Mato Grosso do Sul, ao transitar dos projetos de MDL que desenvolvi para a meta abrangente de Carbono Neutro em 2030, demonstra um alinhamento contínuo e pragmático com a evolução das exigências climáticas globais, transformando as lições aprendidas em políticas de estado com visão de futuro. Essa atualização constante é vital para que a agenda ambiental não fique apenas nos grandes encontros internacionais como a Rio+20 e a atual COP30, mas se materialize em desenvolvimento regional sustentável.
Agradecimentos
A equipe de redação do Portal Energia e Biogás agradece ao eng. Marco Aurélio Cândia Braga pelo artigo com suas percepções a respeito do paralelo entre a Rio+20 (2012) e a COP30 (2025).
Sobre o autor
Marco Aurélio Cândia Braga - engenheiro mecânico, formado pela Universidade Santa Úrsula (1986), com trajetória marcada pela atuação técnica e pelo protagonismo no setor de biogás e biometano. Fundador do Candia & Braga Laboratório de Engenharia, dedica-se ao desenvolvimento de soluções sustentáveis e à inovação em projetos energéticos. Mestre em Eficiência Energética e Sustentabilidade (UFMS), possui MBAs em Gestão de Projetos de Engenharia (IPOG) e Gestão Empresarial (FGV). Atua como responsável técnico em diversas empresas industriais, ministra disciplinas de Energias Renováveis na Faculdade Senai da Construção e participa ativamente de entidades profissionais, tendo presidido a FENEMI e a ABEMEC-MS. Foi membro do Conselho Consultivo e Coordenador Adjunto do Conselho Nacional das Entidades de Classe (CDEN – CONFEA). Com experiência em congressos nacionais e internacionais, Marco segue contribuindo para o avanço da engenharia mecânica e da bioenergia no Brasil. LinkdIn
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Autor: Marco Aurélio Cândia Braga. Publicado em: 20 de novembro de 2025.
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