Inovando no ensino sobre biogás

Artigos de Opinião Série Pesquisa e Inovação
autor: Heleno Quevedo de Lima
publicado em 04/10/2025 08:00 e atualizado em 04/10/2025 11:11
aproximadamente 8min56s de leitura
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Inove suas aulas de Biogás com práticas ativas! Descubra o modelo PAD e “white space” para estimular pensamento crítico, criatividade e protagonismo dos alunos em aprendizagem significativa. Confira o novo artigo da série Sábados de Biogás & Educação.
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Foto: fotomontagem no CanvaPRO (sem o uso de IA)
Sábados de Biogás & Educação
Boas práticas na Sala de Aula

Inovando no ensino sobre biogás

Aprendizagem ativa e criativa

Por Heleno Quevedo de Lima,

Estamos sempre em busca de novas formas de aperfeiçoar e evoluir o ensino, tornando o aprendizado mais eficiente e o processo de transferência de conhecimento e tecnologia mais robusto e acessível a diferentes públicos.

Nessa jornada constante de inovação, uma pesquisa recente nos levou a conhecer um estudo interessante publicado no Journal of Research in Vocational Education, intitulado “Practice of Classroom White Space in the Reform of PAD Teaching in Biogas Engineering”, de Zhiping Zhang e Yameng Li (2025).

O artigo apresenta uma proposta inspiradora para o ensino da disciplina Engenharia de Biogás, que une duas ideias poderosas: o modelo PAD (Presentation–Assimilation–Discussion, ou Apresentação–Assimilação–Discussão) e o conceito de “white space” ou espaços em branco de reflexão planejada dentro da sala de aula.

 

O desafio das aulas tradicionais

Assim como ocorre em muitos cursos no Brasil, o ensino tradicional de Engenharia de Biogás na China ainda enfrenta problemas de baixa interação, passividade dos alunos e sobrecarga dos professores. O modelo “professor pergunta, aluno responde” limita o desenvolvimento de habilidades como pensamento crítico, criatividade e autonomia. Essas são competências essenciais para engenheiros e técnicos que atuarão em áreas inovadoras como o biogás.

 

Afinal, o que é o modelo PAD?

O Modelo PAD (“Presentation–Assimilation–Discussion” ou Apresentação–Assimilação–Discussão), de acordo com o artigo, foi criado pelo professor Zhang Xuexin, da Universidade de Fudan, e busca transformar a aula em um ambiente de aprendizagem mais ativo e participativo.

Na prática, a aula é dividida em três etapas:

  • Apresentação: o professor expõe os conceitos principais de forma clara e objetiva, dedicando cerca de metade do tempo da aula.
  • Assimilação: os alunos têm um tempo de reflexão individual para compreender, resumir e identificar dúvidas.
  • Discussão: na aula seguinte, os estudantes se reúnem em grupos para trocar ideias, apresentar suas conclusões e debater o conteúdo.

Essa estrutura cria um ciclo de aprendizado em que o aluno passa de receptor a protagonista, e o professor atua como facilitador do processo.

 

O “white space”: o poder do silêncio intencional

O artigo destaca também o conceito de “white space”ou espaços em branco na aula. Trata-se de criar momentos de silêncio e reflexão intencional, quando o professor deliberadamente não preenche todos os vazios do conteúdo, permitindo que o estudante explore, questione e construa o conhecimento por si mesmo. Essa prática está relacionada ao Efeito Zeigarnik, que mostra que tendemos a lembrar melhor das tarefas inacabadas, pois elas permanecem ativas na nossa memória.

Em sala, esse espaço de pausa e incompletude estimula o pensamento criativo e a curiosidade, tornando a aprendizagem mais profunda e significativa.

De forma resumida o método transforma o “não dito” em um convite à descoberta.

 

Aplicando o PAD no ensino de Biogás

No curso de Biogas Engineering, Zhang e Li aplicaram o modelo PAD de forma prática. Após as aulas teóricas sobre fermentação anaeróbia e purificação do biogás, os alunos foram convidados a escolher um tema específico, como tratamento de substratos, design de reatores ou otimização de parâmetros, e desenvolver pequenas pesquisas com apresentações em grupo. Esse formato aumentou o engajamento, a comunicação e o trabalho colaborativo entre os estudantes, reduzindo também a sobrecarga docente.

 

Resultados: aprendizado ativo e criativo

Os resultados foram positivos: os estudantes se mostraram mais participativos, curiosos e confiantes, desenvolvendo habilidades como pensamento crítico, autonomia e resolução de problemas. Ao mesmo tempo, os professores relataram um ensino mais leve, dinâmico e eficaz.

O modelo PAD aliado ao “white space” criou um ambiente de aprendizagem vibrante e co-construído, em que o conhecimento é construído coletivamente.

 

Inspirações para o Brasil

As conclusões do estudo inspiram novas formas de ensinar biogás no Brasil, tanto no ensino médio técnico quanto na graduação. Veja algumas possibilidades:

  • Tornar as aulas mais interativas, equilibrando teoria, reflexão e debate.
  • Valorizar o protagonismo dos alunos, incentivando pesquisas e projetos práticos.
  • Integrar teoria e prática com estudos de caso e soluções locais.
  • Desenvolver habilidades socioemocionais, como liderança e empatia.
  • Adaptar o ensino às realidades regionais, buscando soluções sustentáveis e inovadoras.

 

Práticas didático-pedagógicas na Engenharia de Energia na UERGS: experiências que dialogam com o modelo PAD

Ao refletir sobre o artigo de Zhang e Li, lembrei das experiências vivenciadas durante minha graduação em Engenharia de Energia na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), entre os anos de 2003 e 2007. Algumas práticas adotadas por docentes da instituição já traziam elementos muito próximos ao que hoje são discutidos no modelo PAD e no conceito de white space.

Na época, alguns professores estruturavam aulas interativas, que iniciavam com breves exposições introdutórias sobre um tema e, em seguida, os alunos eram divididos em grupos para momentos de reflexão e debate. Cada grupo desenvolvia pesquisas e projetos práticos com o objetivo de integrar teoria e prática, aplicando o conhecimento em estudos de caso e soluções voltadas à realidade regional.

Um exemplo marcante foi o projeto com o foco em identificar o “potencial energético da região do Vale dos Sinos e Vale do Paranhana”, no Rio Grande do Sul. Nessa atividade, os alunos mapearam fontes de energia locais, analisaram as tecnologias necessárias para explorá-las, discutiram os impactos no nexo Sociedade–Ambiente–Energia e cruzaram esses dados com o diagnóstico energético de alguns municípios da região. Sob orientação de um grupo de docentes, os estudantes foram protagonistas em todo o processo, desde o levantamento das informações até a organização e apresentação dos resultados.

As conclusões do projeto foram apresentadas em um seminário interno da disciplina, o que permitiu debates entre os diferentes grupos de colegas de sala de aula e professores envolvidos. Essa experiência promoveu uma integração efetiva entre o curso e o desenvolvimento regional, estimulou habilidades socioemocionais como liderança e cooperação e ampliou a visão dos alunos sobre as relações entre teoria e prática no contexto socioeconômico real.

Essas ações pedagógicas foram pioneiras ao conectar o ensino de engenharia de energia com os princípios do desenvolvimento sustentável e regional. A primeira turma de Engenheiros de Energia da UERGS teve o privilégio de contar com docentes sensíveis à necessidade de formar um novo perfil de engenheiros, com olhar crítico, humanizado e comprometido com a inovação social, um contraponto à formação excessivamente técnica e fragmentada que ainda predominava em parte das universidades brasileiras nos anos 1990.

Hoje, muitas dessas práticas tornaram-se mais comuns em sala de aula, mas ainda há espaço para avançar mais. Vale refletir se a integração entre as experiências vividas na UERGS e os princípios do modelo PAD e do white space poderia impulsionar ainda mais a evolução dos processos de ensino e aprendizagem no campo da energia e do biogás.

Esse é um debate que pode e deve ser enriquecido com contribuições de profissionais da educação, pesquisadores e docentes das áreas técnicas e de formação pedagógica. O diálogo entre a prática e a teoria é o que, de fato, move a inovação educacional.

 

Conclusão

Inovar na forma de ensinar é tão importante quanto inovar na tecnologia. O modelo PAD e o uso dos espaços de reflexão mostram que aprender é também um ato criativo, que exige tempo, diálogo e silêncio.

No ensino de Biogás, essa abordagem pode formar profissionais mais críticos, autônomos e preparados para liderar os desafios da transição energética e da sustentabilidade no Brasil de forma multidisciplinar e intradisciplinar.

 

Referência do Artigo

  • ZHANG, Zhiping; LI, Yameng. Practice of Classroom White Space in the Reform of PAD Teaching in “Biogas Engineering”. Journal of Research in Vocational Education, v. 7, n. 6, 2025. DOI: 10.53469/jrve.2025.07(06).01. Acessado em: 04/10/2025.

 

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