Resíduo Orgânico: Lixo ou Recurso?
Uma reflexão sobre energia, clima e sustentabilidade
Por Heleno Quevedo - Colunista do Portal Energia e Biogás
Por décadas, a lógica da reciclagem foi ditada pelo valor de troca. Metais, papéis e plásticos possuíam um preço por quilo. Esse valor sustentou uma cadeia produtiva, garantindo renda para catadores e estimulando a coleta seletiva. Estes materiais eram, inequivocamente, recursos.
A fração orgânica ocupava uma posição oposta. Sem mercado, era percebida como um passivo. Sua presença nos resíduos recicláveis era um problema: contaminava outros materiais, reduzindo seu valor e inviabilizando processos. O lixo orgânico era, na prática, a antítese de um recurso, um custo a ser gerenciado.
Esta percepção, no entanto, mostra-se um erro de cálculo. O que faltou não foi valor intrínseco, mas os sistemas para capturá-lo. O potencial sempre esteve presente, adormecido na química da matéria biodegradável.
Hoje, esse potencial é ativado. A compostagem transforma restos em adubo, reconstruindo solos. Mesmo em aterros sanitários, a decomposição é interceptada; o biogás, outrora liberado para a atmosfera, é capturado e convertido em energia. Plantas de digestão anaeróbia industriais refinam o processo, gerando biogás, biometano e fertilizantes de alta qualidade. O resíduo orgânico ingressa, finalmente, no circuito da economia.
A pergunta "lixo ou recurso?" revela-se, assim, uma questão de tempo e tecnologia. A última fronteira da reciclagem não está nas embalagens, mas no que colocamos em nossos pratos. A mudança de olhar sobre esta fração orgânica do RSU é o divisor de águas entre um sistema de gestão de rejeitos e um modelo genuíno de economia circular. O recurso sempre existiu. A questão que permanece é:
Estamos prontos para enxergá-lo e preparados para recuperá-los?
Dica de Leitura: Capítulo 5 do livro Energia do Lixo
O livro “Energia do Lixo: Tecnologias para recuperação energética dos resíduos sólidos urbanos”, publicado pela Editora UFABC, foi vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico 2025 na categoria Engenharias, consolidando-se como uma das obras de maior destaque nacional sobre tecnologias de recuperação energética de resíduos.
Entre seus dez capítulos, o Capítulo 5 é leitura indispensável para quem deseja identificar oportunidades de aproveitamento energético da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos (RSU). O capítulo aborda de forma detalhada a digestão anaeróbia e a produção de biogás, apresentando fundamentos técnicos, rotas de conversão, estudos de caso e possibilidades de integração dessa tecnologia aos conceitos de economia circular e transição energética.
O livro foi organizado pelos docentes Antonio Garrido Gallego, Gilberto Martins, Giovano Candiani, Reynaldo Palacios Bereche e Silvia Azucena Nebra, reúne 21 autores e oferece um panorama abrangente sobre soluções inovadoras para transformar resíduos em energia, incluindo processos de gaseificação, pirólise e geração de eletricidade a partir de biogás. Além disso, a obra discute políticas públicas, sustentabilidade e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), conectando ciência, tecnologia e sociedade.
A versão digital do livro está disponível gratuitamente no site da Editora UFABC: editora.ufabc.edu.br/engenharias.
🏆 Vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico 2025 – Categoria Engenharias
💡 Leitura essencial para quem acredita que a energia do futuro também pode vir dos resíduos que produzimos hoje.
Saiba mais em: Livro Energia do Lixo é finalista do Prêmio Jabuti Acadêmico
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Autor: Heleno Quevedo
Este artigo não é de autoria do Portal Energia e Biogás. Os créditos e responsabilidades sobre o conteúdo são do autor. O Portal oportuniza espaço para especialistas publicarem artigos e análises relacionados ao mercado de biogás, biometano e digestato. Os textos não refletem necessariamente a opinião do Portal.
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