Do campo à cidade: Necta Gás transforma resíduos da cana em energia limpa com o primeiro gasoduto urbano de biometano
Confira uma entrevista com Marcos Bernardello, Diretor Comercial da Necta
Em um evento pioneiro realizado em setembro, a Necta não apenas celebrou, mas homenageou os seus primeiros clientes conectados com biometano em Presidente Prudente, no estado de São Paulo. Empresas como o Beef Company Steakhouse & Grill, o Hotel Comfort e a Panificadora Morumbi foram as pioneiras a receber este marco, representando a chegada definitiva de uma energia limpa e renovável à cidade.
Mais do que uma simples ligação, a cerimônia, que contou com a presença do prefeito Tupã e do secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Guilherme Piai, simbolizou um salto rumo a um futuro energético mais sustentável e eficiente. Com um investimento de R$ 12 milhões na Fase II do Projeto Cidades Sustentáveis, a iniciativa consolida Presidente Prudente como a primeira cidade do Brasil abastecida por biometano em escala urbana, um gás 100% renovável produzido a partir dos resíduos orgânicos da cana-de-açúcar e produção de etanol.
Para conhecer um pouco mais sobre os detalhes e o impacto estratégico desse projeto pioneiro, o Portal Energia e Biogás teve um bate-papo com Marcos Bernardello, Diretor Comercial da Necta. Executivo sênior com mais de 20 anos de experiência nos setores de óleo, gás e energia, Bernardello traz uma visão aprofundada sobre descarbonização, transição energética e a liderança de iniciativas que estão moldando o futuro do setor no país.
Entrevista
1. O que motivou a Necta Gás a escolher Presidente Prudente para sediar o primeiro gasoduto de biometano do Brasil voltado ao abastecimento urbano, considerando o investimento de R$ 12 milhões?
Marcos Bernardello: O fomento ao biometano faz parte de nosso plano de negócios. A área de concessão da Necta está em região estratégica, com grande concentração de usinas de cana-de-açúcar com potencial de geração de biometano, são cerca de 135 em operação, o que nos permite viabilizar economicamente o projeto com menor custo logístico e maior previsibilidade de fornecimento. Presidente Prudente, particularmente, já está interligada à usina Cocal, que fica em Narandiba, por uma rede de 50km que foi construída pela Necta em 2021 para atender algumas indústrias.
Nessa segunda fase do projeto no município, vamos construir mais de 40km de rede para levar o biometano a mais de 5 mil clientes residenciais, comerciais, industriais e postos de combustível. Vale destacar que tivemos amplo incentivo do prefeito Tupã para viabilizar o nosso plano de negócios, bem como o apoio de indústrias e associações locais.
A combinação desses fatores, localização privilegiada, disponibilidade de matéria-prima, apoio institucional e demanda crescente por soluções energéticas sustentáveis, fez de Presidente Prudente o cenário ideal para implantar o primeiro gasoduto de biometano urbano do Brasil.
2. A construção de 40 km de rede de distribuição é um projeto de grande escala. Quais foram os principais desafios técnicos e logísticos enfrentados pela Necta Gás durante a implementação do gasoduto em Presidente Prudente?
Marcos Bernardello: atualmente, a obra está em andamento, com aproximadamente 50% concluída e tem previsão de término para o fim de 2025. O principal desafio nesta etapa é evitar que a obra tenha interferência na rotina da população. Para isso, estamos utilizando uma tecnologia não destrutiva de perfuração direcional horizontal, com pequenas valas abertas a cada 100 metros com o auxílio de uma perfuradora para a instalação dos dutos de polietileno de alta densidade, a uma profundidade média de 80 centímetros.
3. O projeto visa atender inicialmente 5 mil pessoas e 58 estabelecimentos. Qual a estratégia da Necta Gás para expandir a base de clientes e o alcance do biometano na cidade e em outras regiões?
Marcos Bernardello: Especificamente para o biometano, em nosso 6º ciclo tarifário (que contempla o período de dezembro de 2024 a novembro de 2029), estamos propondo a conexão de 3 novos produtores, elevando a oferta para 74 mil m³ ao dia, com o objetivo de levar o biometano a novos municípios.
4. A parceria com a Usina Cocal para o fornecimento do biometano é fundamental. Como a Necta Gás avalia essa colaboração e quais são os planos para garantir a sustentabilidade e a escalabilidade do fornecimento de biometano a longo prazo?
Marcos Bernardello: A parceria com a Usina Cocal é estratégica para a Necta e representa um marco na consolidação do biometano como alternativa viável e sustentável na matriz energética brasileira. A planta localizada em Narandiba produz até 25 mil m³ de biometano por dia, e garante um fornecimento contínuo e limpo para nossa rede canalizada. Juntos, formamos um modelo de economia circular que fortalece o setor sucroenergético regional e impulsiona a transição energética no interior paulista.
Essa experiência bem-sucedida com a Usina Cocal estabelece um modelo técnico e operacional sólido, que pode ser replicado em novas frentes de expansão, como o projeto para desenvolver parcerias com outros agentes do setor sucroenergético, como o Grupo São Martinho, que será responsável pela produção de biometano com foco no atendimento à região de Ribeirão Preto. Trata-se de uma estratégia estruturada de crescimento, pautada pela viabilidade técnica, sustentabilidade ambiental e pela contribuição efetiva para a transição energética no estado.
5. O biometano é uma fonte de energia renovável com baixa pegada de carbono. Como a Necta Gás enxerga o papel do biometano na matriz energética brasileira e quais são os planos da empresa para contribuir com a descarbonização do país?
Marcos Bernardello: O biometano é um combustível renovável, nacional e uma das principais alternativas para reduzir a dependência de combustíveis fósseis no país, especialmente em regiões com forte atividade agroindustrial.
Essa demanda está crescendo, e estamos prontos para atender com escala, eficiência e impacto ambiental positivo. Nesse momento, o nosso papel é estruturar uma rede segura e eficiente de distribuição para conectar produtores a consumidores com confiabilidade e previsibilidade para receber combustível limpo e competitivo no contexto de descarbonização dos setores de transporte, indústria e geração distribuída. Por isso, estamos expandindo nossa malha de gasodutos, ampliando a contratação de volumes por meio de chamadas públicas e trabalhando ativamente com órgãos reguladores e parceiros do setor para fomentar um ambiente favorável ao crescimento sustentável do mercado.
6. O material de referência menciona que a Necta Gás atua na distribuição de gás natural canalizado em 375 municípios do noroeste de São Paulo. Como a experiência de Presidente Prudente pode ser replicada ou adaptada para outras cidades dessa área de atuação?
Marcos Bernardello: A área de concessão da Necta abrange 375 municípios, com rede de distribuição de gás natural presente em 43 deles. Destes, somente seis contam com infraestrutura disponível para atendimento a clientes urbanos. Nossa estratégia prioriza a expansão da rede em municípios com mais de 60 mil habitantes, visando ampliar o atendimento ao segmento urbano. Até 2030, estão previstas a conexão de três novas usinas de biometano e a expansão da rede para mais quatro municípios.
7. A Necta Gás lançou uma chamada pública para aquisição de biometano. Quais são os critérios e expectativas da empresa para essa aquisição, e como isso se alinha com a estratégia de crescimento da Necta Gás no mercado de biometano?
Marcos Bernardello: A chamada pública encerrada em julho reforçou o suprimento de gás natural e/ou biometano da Necta, nos termos das especificações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ela abriu espaço para a contratação de até 300 mil m³/dia em condições mais competitivas, com foco na distribuição para os setores residencial, comercial, industrial e veicular do Noroeste Paulista.
8. Quais são os próximos grandes projetos ou investimentos da Necta Gás no setor de biometano, tanto em São Paulo quanto em outras regiões do Brasil?
Marcos Bernardello: Faremos de Ribeirão Preto a segunda cidade 100% abastecida por biometano ainda este ano. O projeto está inserido no programa estadual Cidades Sustentáveis e contribui com os compromissos climáticos do Estado (PEE 2050). A ampliação da rede representa uma ação concreta de descarbonização e de estímulo ao uso de energia limpa a partir de resíduos da cana-de-açúcar.
9. Olhando para o futuro, qual a visão da Necta Gás para o mercado de biometano no Brasil nos próximos 5 a 10 anos, e como a empresa pretende se posicionar como líder nesse segmento?
Marcos Bernardello: As usinas sucroalcooleiras do interior de São Paulo possuem potencial para produzir mais de 6 milhões de m³/dia de biometano. A Necta planeja, nos próximos anos, investir em infraestrutura de rede para conectar diversas dessas usinas, ampliando a oferta de gás renovável em sua malha. Essa iniciativa reforça o compromisso com a transição energética, promovendo soluções mais sustentáveis tanto para o setor industrial quanto para o transporte rodoviário.
Necta Gás Natural
Concessionária de serviço público responsável pela distribuição do gás canalizado no Noroeste do Estado de São Paulo. www.nectagas.com.br
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