Biogás e biometano: o combustível do futuro já é realidade no Brasil
De postos de abastecimento a indústrias verdes, setembro de 2025 marcou a consolidação do biogás e do biometano como pilares da descarbonização.
Por Heleno Quevedo - Colunista do Portal Energia e Biogás
Setembro de 2025 ficará marcado como um ponto de virada para a bioenergia nacional. O que vimos não foram apenas anúncios pontuais, mas um conjunto de decisões estratégicas que deixam claro: biogás e biometano já fazem parte da engrenagem energética brasileira e se consolidam como alicerces da descarbonização.
No Paraná, a inauguração do primeiro posto de biometano do estado, em Ponta Grossa, reforça a vocação logística da região. Com a maior capacidade de abastecimento de GNV do país, a estação integra corredores sustentáveis até o porto de Paranaguá, permitindo que o transporte pesado reduza custos e emissões. Paralelamente, o pedido de licença da Bioo Paraná Holding para erguer uma planta de biometano, CO₂ e biofertilizantes em Toledo revela a confiança dos investidores e a força da bioeconomia regional.
Em Mato Grosso do Sul, a pauta foi liderança. Em evento articulado por Biosul e ZEG Biogás, o projeto da Adecoagro mostrou que a vinhaça da cana deixou de ser apenas resíduo para se tornar ativo energético. A sinergia com o programa MS Carbono Neutro 2030 traduz maturidade: governo, agro e inovação falando a mesma língua. Se o etanol transformou o setor sucroenergético no passado, o biometano desponta como o próximo salto competitivo.
São Paulo mantém sua posição de epicentro da bioenergia. A Cocal investe R$ 216 milhões em Paraguaçu Paulista, ampliando a produção de gás renovável a partir de resíduos agrícolas e pecuários, fortalecendo a economia circular. Já em Cubatão, a Yara opera uma iniciativa inédita de amônia verde com biometano. O desafio, contudo, é aumentar a oferta de combustível, sob pena de limitar a escala da indústria.
No Sul, o Rio Grande do Sul mostrou que inovação e pragmatismo podem caminhar juntos. A Tramontina adotou o biometano em duas fábricas, cortando mais de 300 toneladas de CO₂ por mês. E a inauguração da usina Biometano Sul, em Minas do Leão, transforma o que antes era passivo ambiental, o lixo urbano, em energia limpa com capacidade de suprir indústrias e frotas inteiras.
No Sudeste, o Rio de Janeiro consolida-se com o aterro de Seropédica como referência latino-americana na transformação de resíduos em gás renovável. Já no Espírito Santo, a venda de uma termelétrica da Raízen para a Gera Energia mostra que o mercado começa a se reorganizar, com empresas ajustando suas estratégias diante da maturidade crescente do setor.
A mensagem que setembro deixa é inequívoca: o Brasil não está apenas aderindo à bioenergia, está moldando uma nova indústria. Estimativas apontam para um potencial de até 6 milhões de m³/dia de biometano até 2029, o que colocaria o país entre os cinco maiores produtores do mundo.
Os desafios não são pequenos, logística, regulação de preços e previsibilidade da oferta precisam avançar. Mas a direção é clara. Se o século XX marcou a era do etanol, o século XXI pode ser o do biometano. E, desta vez, não se trata apenas de combustível para veículos, mas de energia para indústrias, fertilizantes verdes para o agro e gás renovável para cidades.
O futuro energético já começou e o Brasil tem tudo para ser protagonista. Cabe a nós, governo, empresas e sociedade, garantir que o ritmo não se perca.
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A coluna Biogás em Pauta aborda diferentes temáticas relacionadas com o processo de produção de biogás, destacando a relação com fatores ambientais, sociais, econômicos e corporativos.
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Autor: Heleno Quevedo
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