Biodigestores de pequena escala no semiárido brasileiro
Impactos nas emissões e na segurança hídrica, energética e alimentar
Introdução
No Portal Energia e Biogás fazemos trabalho voluntário de divulgação científica com um propósito claro: aproximar pesquisas acadêmicas de alto impacto das necessidades reais do setor de biogás e biometano. Nossa curadoria prioriza estudos que tragam soluções práticas, dados robustos e visão integradora, trabalhos que mereçam uma leitura atenta não apenas pela comunidade acadêmica, mas também por empreendedores, operadores de plantas e formuladores de políticas públicas.
Em cada episódio da série Quartas de Divulgação Científica selecionamos uma produção que, pela qualidade técnica e pela relevância aplicada, pode contribuir para acelerar a transição energética e a economia circular no Brasil. Buscamos destacar pesquisas que indiquem caminhos viáveis para aumento de eficiência, redução de custos, desenvolvimento social e integração de cadeias (por exemplo: biogás + demandas por saneamento, energia e fertilizante no campo), sempre com olhar crítico sobre desafios operacionais e possibilidades de escalonamento.
No episódio de hoje trazemos um estudo que mostra como os biodigestores, transformando dejeto animal em energia, ajudam famílias rurais no semiárido brasileiro a economizar, melhorar a saúde e produzir mais alimentos de forma sustentável, além de diminuir a poluição e as emissões de gases do efeito estufa.
Acompanhe-nos nesta edição das Quartas de Divulgação Científica: vamos destrinchar os objetivos, a metodologia, os achados e as implicações práticas do artigo "Biodigestores de pequena escala em uma região tropical semiárida: impactos nas emissões e na segurança hídrica, energética e alimentar" publicado no Journal Energy Nexus, volume 20, dezembro de 2025.
APROVADO! Artigo sobre experiência de produção de biogás em escala doméstica rural, no Sertão do Pajeú (PE)
Aprovado na Revista Internacional NEXUS ENERGY - Fator de Impacto 9,5.
Este artigo é o resultado de pesquisa executada pelo Departamento de Energia Nuclear da UFPE, em parceria com a Diaconia - no âmbito do Observatório Nacional da Dinâmica da Água e do Carbono no Bioma Caatinga (ONDA CBC).
O artigo também contou com a parceria estratégica do Programa de Pós Graduação em Agroecologia da UNIVASF (Campus Juazeiro) e com a Embrapa Semiárido.
O coração da pesquisa
O principal objetivo do estudo foi avaliar os benefícios do uso de biodigestores, equipamentos (infraestrutura) que transformam dejetos de animais em energia e biofertilizante, para famílias rurais na região semiárida do Nordeste do Brasil.
Os autores querem entender como essa tecnologia pode ajudar a melhorar a qualidade de vida, promovendo economia de recursos, saúde mais adequada, produção agrícola mais eficiente e menor impacto ambiental. Além disso, buscam identificar os desafios na implementação e manutenção desses sistemas, propondo maneiras de ampliar seu uso na comunidade.
Quem são os autores e onde são?
O estudo foi realizado por uma equipe de pesquisadores de diferentes instituições brasileiras. Entre elas, destacam-se a Universidade Federal de Pernambuco, a Universidade Federal de Vale do São Francisco, a Embrapa Semiárido, e a ONG Diaconia. Essas instituições têm expertise em energias renováveis, agricultura familiar, estudos sociais e tecnologias sociais, trazendo uma abordagem multidisciplinar para investigar o impacto dos biodigestores na vida do agricultor rural no semiárido brasileiro, especialmente nos estados de Pernambuco e Ceará.
Conheça os autores:
- Jéssica Bárbara da Silva
- Grupo de Pesquisa em Energia da Biomassa, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
- Ita Oliveira-Porto
- Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural, Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)
- Diaconia
- Bárbara Ribeiro Alves Alencar
- Grupo de Pesquisa em Energia da Biomassa, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
- Edvaldo Pereira Santos Júnior
- Grupo de Pesquisa em Energia da Biomassa, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
- Centro de Ciências Humanas e Agrárias, Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
- Diego Ribeiro do Amaral
- Grupo de Pesquisa em Energia da Biomassa, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
- Daniela Silva Gomes Moreira do Valle
- Grupo de Pesquisa em Energia da Biomassa, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
- Íthalo Barbosa Silva de Abreu
- Grupo de Pesquisa em Energia da Biomassa, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
- Suzyane Porfírio da Silva
- Grupo de Pesquisa em Energia da Biomassa, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
- Alineaurea Florentino Silva
- Embrapa Semiárido
- Roseane Simões de Moura
- Diaconia
- Monica Carvalho
- Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Departamento de Engenharia de Energias Renováveis
- Antônio Celso Dantas Antonino
- Centro de Tecnologia e Geociências, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
- Aldo Torres Sales
- Centro de Tecnologia e Geociências, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
- Emmanuel Damilano Dutra
- Grupo de Pesquisa em Energia da Biomassa, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
- Centro de Tecnologia e Geociências, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
- Rômulo Simões Cezar Menezes
- Grupo de Pesquisa em Energia da Biomassa, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
- Centro de Tecnologia e Geociências, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Contexto e Importância
O trabalho é relevante porque visa compreender a importância do biodigestor sertanejo para as comunidades rurais diante da escassez de energia, comuns às comunidades rurais dessa região, como a escassez de energia limpa, doenças respiratórias causadas pelo uso de lenha, má qualidade da água e baixa produção de alimentos.
Usar biodigestores oferece uma solução integrada que melhora a saúde, reduz custos e ajuda a preservar o meio ambiente, contribuindo para objetivos globais de sustentabilidade (ODS), como reduzir emissões de gases de efeito estufa e promover a autonomia energética de comunidades que vivem com poucos recursos.
Assim, o estudo mostra um caminho prático para fortalecer a segurança alimentar e a saúde dessas famílias vulneráveis.
Como foi feita a pesquisa?
A pesquisa envolveu a aplicação de questionários com famílias rurais que possuem biodigestores, buscando entender seu uso e funcionamento, além de coletar dados sobre doenças, economia doméstica, produção agrícola e condições de saneamento.
Os autores também fizeram análises químicas do digestato, o efluente gerado pelo biodigestor, para verificar sua qualidade como biofertilizante natural.
Para avaliar o impacto ambiental, os autores realizaram uma avaliação do ciclo de vida, que compara as emissões de gases na produção e uso do sistema antes e depois da instalação do biodigestor, ou seja, fizeram uma análise do que mudou no meio ambiente com essa tecnologia.
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O que foi descoberto?
Os resultados mostram que o uso de biodigestores trouxe benefícios concretos, como a redução de doenças respiratórias ao substituir fogão a lenha por biogás, que é uma fonte de energia mais limpa.
Além disso, as famílias economizaram dinheiro, economizando cerca de 201.3 dólares por ano (cerca de R$ 1081,22 considerando a cotação do dólar a R$ 5,38 em 26/11/2025) com o uso de biogás. Também houve aumento na produção de alimentos, pois o digestato pode ser utilizado como biofertilizante natural, melhorando a fertilização das plantações.
Ambientalmente, o estudo constatou que produzir energia a partir de dejetos animais emite menos gases nocivos do que queimar lenha ou aplicar dejeto no campo de forma tradicional.
As principais conclusões do artigo
Os autores concluem que os biodigestores são uma tecnologia acessível e eficaz, capaz de proporcionar grandes benefícios sociais, ambientais e econômicos.
Eles reforçam que, além de gerar energia limpa, ajudam na saúde, no crescimento da produção agrícola e na redução da poluição. Contudo, destacam que o uso pleno dessa tecnologia depende de uma manutenção adequada, conscientização das famílias e suporte técnico regular, para garantir sua durabilidade e eficiência a longo prazo.
Impacto na sociedade
O projeto tem potencial de ampliar seus benefícios para muitas outras famílias rurais, fortalecendo a autonomia energética e alimentícia dessas comunidades.
Com isso, a tecnologia pode diminuir a dependência de combustíveis fósseis ou lenha, reduzir doenças respiratórias, economizar dinheiro, melhorar a infraestrutura de saneamento e contribuir para cuidados ambientais. Além disso, o uso de digestato como biofertilizante pode aumentar a produção agrícola sem o uso de produtos químicos, fortalecendo a segurança alimentar no semiárido brasileiro.
Desafios superados
Um dos principais obstáculos enfrentados foi a alta taxa de biodigestores que ficaram inativos, devido a falhas técnicas, dificuldades de manutenção ou falta de conhecimento das famílias sobre seu funcionamento.
Para superar isso, os autores indicam a necessidade de capacitação adequada, acompanhamento técnico e melhorias na qualidade dos biodigestores. Outro desafio foi a resistência cultural e o custo inicial de instalação, que podem ser obstáculos na adoção em maior escala.
Apesar dessas dificuldades, o estudo demonstra que, com apoio e melhorias, é possível ampliar o uso desta tecnologia social, promovendo mudanças duradouras na vida dessas comunidades.
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Se, após o resumo que apresentamos aqui, você gostou da temática e quer se aprofundar, convidamos você a acessar e ler o artigo completo, e, se possível, compartilhar com sua rede de contatos do setor de biogás.
O estudo “Small-scale biodigesters in a tropical semi-arid region: Impacts on emissions and water, energy and food security”, publicado no Energy Nexus (Volume 20, dezembro de 2025), traz uma análise detalhada sobre os impactos dos biodigestores de pequeno porte no semiárido tropical, evidenciando sua contribuição para a redução de emissões e para a segurança hídrica, energética e alimentar.
Uma leitura essencial para quem acompanha o avanço das tecnologias do biogás no Brasil e no mundo.
Referência Bibliográfica
SILVA, Jéssica Bárbara da. et al. SMALL-SCALE BIODIGESTERS IN A TROPICAL SEMI-ARID REGION: IMPACTS ON EMISSIONS AND WATER, ENERGY AND FOOD SECURITY. Energy Nexus, p. 100602, 2025. DOI: 10.1016/j.nexus.2025.100602
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